Em meio a surto de dengue, HSL testa a primeira vacina brasileira contra a doença
O Hospital São Lucas entra em breve em uma nova fase da vacina que pode ser a esperança contra os surtos de dengue que se espalham pelo Brasil, como o que ocorre em 2022. Em parceria com o Instituto Butantan, o HSL desenvolve o imunizante e deve chamar em breve novos voluntários em Porto Alegre e Pelotas após uma parada forçada pela pandemia de COVID-19. Segundo o mais recente boletim epidemiológico de arboviroses do Ministério da Saúde, os casos de dengue tiveram um aumento de 85% de janeiro a abril de 2022, em comparação com o mesmo período do ano passado. A região Sul do país é a mais afetada. No RS, além da Capital, cidades das regiões do Vale do Sinos, Paranhana e Taquari são as apresentam maior incidência de casos.
A vacina testada no HSL é tetravalente (capaz assim de proteger contra os quatro tipos da doença provocada pelo transmissor Aedes aegypti), administrada em dose única e, segundo o líder da pesquisa e infectologista Fabiano Ramos, é de vírus atenuado, ou seja, enfraquecido. A parceria com o Butantan começou em 2016 e já participaram da pesquisa cerca de 500 pessoas, com metade destes voluntários recebendo placebo e a outra metade, o imunizante. Na próxima etapa, chamada de Fase 4, serão recrutadas em média 600 pessoas.
Os voluntários das fases anteriores foram acompanhados ao longo de cinco anos, sem que fossem percebidas reações adversas. De acordo com Ramos, o atraso da pesquisa deve ser resolvido em breve com a disponibilidade da fábrica do Butantan em São Paulo, voltada nos últimos dois anos à produção da Coronavac, também testada no São Lucas. "Teremos agora essa produção na fábrica e assim poderemos seguir a pesquisa, que deve ser concluída até 2024", explica.
Pioneirismo em vacinas no Brasil
O Centro de Pesquisa do Hospital São Lucas repete o piorneirismo na busca de vacinas contra doenças virais no país. Em 2020, foi um dos centros a testar a Coronavac, também em parceria com o Butantan. A pesquisa contou com a participação de mais de 1.300 voluntários na instituição. No dia 20 de janeiro de 2021, a vacina, já aprovada pela Anvisa, começou a ser aplicada no hospital, a colaboradores do grupo prioritário como profissionais da linha de frente contra a Covid-19, que atuam nas unidades de internação, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e Emergência.
A CoronaVac se tornou uma das vacinas mais ministradas do mundo: no Brasil, mais de 85 milhões de idosos foram imunizados com ela, que responde por cerca de 25% das vacinas aplicadas no país. Em 2022, o imunizante também foi aprovado para uso emergencial em crianças e adolescentes de seis a 17 anos.
Para Leandro Firme, diretor-geral do hospital, os estudos da vacina contra a dengue só reforçam esse pioneirismo. "Isso traz um impacto relevante na qualidade de vida das pessoas e isso se renova em mais esta parceria com o Instituto Butantan: mais uma solução em respostas às necessidades reais e atuais de saúde pública da nossa sociedade", ressalta.